Décio Pignatari

Semi de Zucca

“Décio no poema pré-concreto “semi de zucca”, poema mallarmaico, de estrutura rarefeita e elíptica (já antecipando a ambivalência do poema visual que em seu centro faz o simbólico se precipitar em direção ao icônico), é o caso, no poema, dos parênteses sempre à beira da metamorfose: rabiscos quase sem intenção alfabética. Veja-se este excerto:

sol ( al ( ó ( eco

Semi di zucca = “sementes de abóbora”, e acrescenta: “Secas e salgadas, aqui como na Itália, comem-se”. O menos não é mais, o menos é menos. Não estamos longe do koan (anedota zen), do sarro contra a seriedade de fachada, contra o “conteúdo” do poema a ser decodificado; é como se o poeta (amigo da onça) nos convidasse a colher peras ao olmo. No filme Notre Musique, Godard faz uma operação similar; em uma cena do filme, já no encerramento de uma aula sobre o uso do campo e contracampo na cinematografia, uma moça pergunta a Godard se ele acha que as câmeras digitais oferecem novas possibilidades à narrativa do cinema, corte para um close-up do rosto enrugado do diretor e para-ator que fecha os olhos e permanece em silêncio durante alguns segundos, corte. Música calada. Não há resposta. A recusa à redundância e ao previsível é o que subjaz a ambos os casos. Cabe, ainda, lembrar Drummond: a poesia que interessa “é um sinal de menos”.

O que interessa em Décio Pignatari de Ronald Augusto no site http://sibila.com.br/critica/o-que-interessa-em-decio-pignatari/5297

Exposição: Concreta’56: A raiz da forma

Museu de Arte Moderna. São PAulo | Setembro de 2006

Método

  • paginação, impressão fineart e serigrafia na capa.