Décio Pignatari
Life
A disposição do texto numa sequência de seis pranchas/páginas se organiza de forma progressiva: a cada prancha/página, um novo traço se inclui, alterando gradativamente o signo e redimensionando os seus sentidos.
Como em um processo cinematográfico [nos moldes das montagens, com saltos e sobreposições, do cineasta soviético Sergei Eisenstein – 1889-1948), as letras de “Life” vão se transformando com o acréscimo de uma linha a cada página. Na penúltima, a justaposição das letras compõe o ideograma chinês “sol” e, na última, após uma reorganização, “life” [vida). A palavra, embora só apareça na última prancha, está contida no ideograma e, em uma leitura gestáltica, pode ser percebida, também, na sequência das quatro primeiras pranchas/páginas, ainda que o “I” anteceda o “L”: parte e todo, desse modo, se reafirmam. No trabalho de Pignatari, a escrita ocidental, indiciada pelo vocábulo em inglês e marcada por uma arbitrariedade maior entre significante-significado, aproxima-se do princípio da escrita oriental, ideogrâmica: o movimento, caracterizador da vida e metonimicamente representado pelo sol, concretiza-se na composição do texto, no virar de página acionado pelo leitor, que ilumina a obra a partir da ação vivificadora do poeta. “O signo é contra a vida, a arte pretende ser um signo de recuperação da vida, vida, memória na pme”, afirma o autor de “Life” [PIGNATARI, 2004, p. 13). O texto exige, para tanto, um olhar especial, gestáltico. (LEITE, p. 37)
Texto extraído de:
LEITE, Marli Siqueira. Ronaldo Azeredo: o mínimo múltiplo (in)comum da poesia concreta. Vitória (ES): EDUFES, 2013. 132 p. 20×20 cm. ilus. Projeto gráfico e diagramação: Isabelly Possatto. Capa: Isabelli Possatto e Willi Piske Júnior. ISBN 978-85-7772-155-9
Exposição: Concreta’56: A raiz da forma
Museu de Arte Moderna. São PAulo | Setembro de 2006
Método
- Digitalização, paginação, impressão fineart e encadernação manual.