A Arte que interessa o que não
Exposição
A singularidade da mostra se caracteriza pela apresentação de uma maioria de trabalhos menos conhecidos, incluindo alguns há muito fora de circulação, produzidos entre os anos 1950 até os 2000, sem deixar de fora exemplos dos clássicos da produção de Décio Pignatari, num conjunto de cerca de cinquenta obras.
Também serão exibidos manuscritos e datiloscritos originais, cartas, fotografias e outros documentos, alguns deles jamais vistos publicamente, e ainda material sonoro e audiovisual. A exposição, que ocupa os dois andares da galeria, se propõe a dar um panorama conciso mas multifacetado da produção artística de Décio, que amplia a compreensão de sua obra para além do reconhecimento como um dos fundadores da poesia concreta ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
Ao longo de mais de meio século de atuação no meio cultural do país, Décio Pignatari explorou nos seus trabalhos não apenas a dimensão semântica, mas também sonora e principalmente visual da linguagem. Nome-chave da poesia visual no Brasil, ficou conhecido por sua inquietude criativa, sendo também autor de peças de teatro, contos e um romance, sempre com alto grau de experimentação, além de uma série de textos de referência nas áreas da semiótica e da teoria da comunicação.
Parte da sua rica produção artística poderá ser vista na exposição, incluindo originais de época de poemas visuais como Terra (1958) e o icônico Beba Coca-Cola (em versão serigráfica assinada por Décio em 1991), além de obras como Pelé e Agora, da série Poemas Semióticos (1964) e uma tiragem fac-símile de Cr$isto é a Solução (1967) — que o público poderá levar pra casa — que dialogam de perto com o contexto atual do país. Em meio a uma variedade de técnicas e suportes – impressos em offset e em serigrafia, objetos, gravações de áudio e outros – os visitantes terão acesso a dois importantes poemas-livro, Life (1958) e Organismo (1960), disponibilizados em réplicas que poderão ser manipuladas no espaço expositivo.
O curador João Bandeira considera que a obra de Décio Pignatari “é como um continente ainda mal conhecido”. E completa: “o trabalho do Décio ao lado dos irmãos Campos na criação da poesia concreta nos anos 1950 e a discussão sobre isso que ele encampou com eles é, com certeza, uma herança fundamental. Mas a originalidade e a amplitude da produção dele não se esgotam aí. Ele tinha uma coragem de arriscar que eu acho admirável. Além do Décio designer de linguagem naquele padrão suíço mais conhecido, tem também o Décio “udigrudi”, que trocava figurinhas com, por exemplo, Hélio Oiticica ou Júlio Bressane, e que criou com Rogério Duprat o impagável ‘Marda – Movimento de Arregimentação Radical em Defesa da Arte’, pautado pela mais ácida irreverência, de onde saíram roteiros para fotonovelas e coisas como happenings ao som do jingle Brazil, My Mother (de 1970), que, aliás, vai estar também nesta exposição na galeria Millan”.
Galeria Milan
Curadoria João Bandeira.
22 de novembro a 20 de dezembro de 2017,
Método
- Digitalização, vetorização, tratamento de imagem e impressão